Entender a Diabetes

Tenho Diabetes, e agora?

António Pina

A minha história... António Pina

António Pina é professor do ensino secundário e convive com a diabetes há cerca de 8 anos. Confessa que não ficou surpreendido com o diagnóstico porque a mãe tem diabetes tipo 2 desde os 41 anos.

Foi na escola em que lecionava, quando descia as escadas de acesso ao piso 4 onde se situava a Biblioteca, que começou a sentir-se mal: suores frios, transpiração, quase perdeu os sentidos. Abrandou o passo, recuperou devagar mas não se apercebeu que estava a ter um episódio de hipoglicemia. Só quando consultou o médico é que descodificou os sinais daquele episódio. Teve receio, pois confessa que a ideia de estar a perder a consciência enquanto descia a escadaria da escola não lhe agradou. Na altura, ficou assustado.

Oriundo de uma família de três irmãos, António considera que é o único que herdou a costela materna com tendência para desenvolver a diabetes. Consegue, porém, apontar aspetos positivos. Quando soube da doença deixou imediatamente de fumar. Já andava a pensar nisso porque andava com o colesterol elevado, mas o diagnóstico de diabetes foi o impulso que faltava para largar o vício do cigarro.

Sabe e reconhece a importância do exercício físico no controlo da diabetes e por isso todos os anos de março a novembro caminha cerca de cinco quilómetros por dia no passeio marítimo. Um exercício fundamental para a manutenção dos níveis de glicemia, pois António sabe que está perto dos níveis em que pode ser necessário iniciar terapêutica com insulina.

«Adoro comer e ainda por cima cozinho», diz, justificando que a parte alimentar é a sua grande luta diária. Não prescinde do café e adianta que é mais difícil largar este vício e o da boa comida do que o tabaco.

Reduzir as quantidades de comida tornou-se imperativo e António até comprou novos pratos (mais pequenos) de refeição lá para casa. O trabalho também não ajuda a fazer uma alimentação racional e fragmentada ao longo do dia. Aponta o dedo às cantinas das escolas, que considera uma vergonha em termos da comida servida, e revela que os bons refeitórios e com refeições racionais ficam fora dos centros urbanos. Na sua terra natal, na província, é um prazer ir comer à cantina da escola porque a comida é excecional e bem confecionada. Opta por levar peças de fruta para a escola e vai comendo quando pode e existe oportunidade. Diariamente vê ­­— nos seus alunos ­­— uma enorme quantidade de "disparates" alimentares. E por isso prevê que a diabetes e a obesidade sejam doenças ainda mais prevalentes daqui a uns anos.

Teve já cerca de cinco episódios de hipoglicemia, mas o que o preocupa é que quando os níveis caem a recuperação e o regresso a níveis "normais" é demasiado lenta. «Tenho receio de não conseguir recuperar», diz.

A juntar à diabetes, António tem também uma disfunção na tiroide e hipertensão. Este "cocktail" assustou-o e está agora mais atento às medições do nível de glicemia (uma das coisas que mais o aborrecem). De manhã, nunca falha a medição. Quando faz exercício faz as medições e denota que os níveis melhoram bastante. Mas admite que falha muito durante o dia, principalmente nos dias de trabalho. Com 50 minutos de aula e apenas cinco de intervalo e inúmeras tarefas burocráticas para resolver nesse curto espaço de tempo, as medições acabam por ficar esquecidas. Nas férias o ritmo é outro e permite cumprir o método e monitorizar mais vezes os níveis de glicemia.

Com uma alimentação à base de carnes magras, António denota que quando aumenta a ingestão de peixe os níveis de glicemia ficam mais estáveis. O peixe tem sido então, nos últimos tempos, o rei e senhor da sua mesa. Tem muito receio da parte renal - pela quantidade de fármacos que toma diariamente - e portanto tem como objetivo reduzir a toma diária de medicamentos.

Apreciador de estudos genealógicos, regressou ao século XVIII para estudar a sua família e observou que ninguém teve diabetes até ao primeiro caso: a sua progenitora. E António saiu à mãe, gosta de boa comida, de bons cozinhados, e por isso é tão difícil manter os níveis no equilíbrio que o médico que o acompanha lhe exige nas consultas.

Já consegue identificar os episódios de hipoglicemia porque, regra geral, acontecem quando se esquece de comer. E se o período em que não come for prolongado, começa logo a sentir sinais de que está com os níveis em baixa. Nestas ocasiões, tenta comer de imediato qualquer coisa.

Não acredita numa cura para a diabetes a breve trecho, mas admite ser um estudioso das novidades que vão aparecendo nos media. «A maior parte das vezes já sei o que não devo fazer. A questão está em interiorizar esse conhecimento», afirma, dizendo que a diabetes interfere com o ritmo diário, pessoal e profissional. De quando em vez, comete um "pecado diabético" porque é muito difícil de resistir a um bom prato e a parte alimentar é, de facto, uma barreira que quer ultrapassar. António receia que chegue o dia em que fica dependente da insulina porque uma vez neste ponto já não existe retorno. Pensa mudar o local de trabalho para mais perto de casa e assim começar a ir trabalhar de bicicleta ou deslocar-se a pé. Gosta de pintar mas é um hobby que reconhece não dar grandes frutos no controlo da diabetes.

Movimentar-se mais - a pé ou de bicicleta - é uma meta que definiu para 2014. «A diabetes é insidiosa porque permanentemente engana o doente. A performance diária mantém-se e acabamos por não dar pela doença. O organismo continua aparentemente impecável, mas a verdade é que a diabetes pode ir matando devagarinho. Nesse aspeto a diabetes é perigosa», diz, afirmando que resolveu partilhar este testemunho por forma a chamar a atenção das gerações mais jovens para os perigos da má alimentação e do sedentarismo que, num futuro próximo, terão muito maus resultados. «Em termos de saúde pública, o barato de hoje vai sair muito caro no futuro», adverte.

 

PT-DIA-00202 05/2021